Uma Breve História do Islã

A vida pregressa do Profeta antes de sua missão profética e um vislumbre de sua missão em Meca.

A Hégira, ou migração, dos muçulmanos para Medina, e destaques dos desafios dos primeiros dias da residência do Profeta lá.

A última parte da residência do Profeta em Medina, do Tratado de Hudaybiyyah, a Conquista de Meca, até sua morte.

O Califado, ou sucessão, de Abu Bakr e Umar, dois dos mais proeminentes dos companheiros do Profeta, a propagação do Islã e a política externa islâmica em relação aos habitantes das terras conquistadas.

A eleição, governo e caráter do terceiro califa do Islã.

Uma Breve História do Islã

Ismail Nawwab - Peter Speers - Paul Hoye - Amat Allah Abd Allah (edited by IslamReligion.com)

(parte 1 de 5): O Profeta do Islã

 

Em torno do ano 570 a criança que seria chamada de Muhammad e que se tornaria o Profeta de uma das maiores religiões mundiais, o Islã, nasceu de uma família que pertencia ao clã dos Coraixitas, uma tribo governante de Meca, uma cidade na região do Hijaz no noroeste da Arábia. Originalmente o local da Caaba, um templo de origens antigas, Meca tinha, com o declínio do sul da Arábia, se tornado um centro importante de negócios do século seis com poderes como os sassânidas, os bizantinos e os etíopes.  Como resultado a cidade foi dominada por famílias de comerciantes poderosos, entre os quais os homens dos Coraixitas se sobressaíam.

O pai de Muhammad, “Abd Allah ibn” Abd al-Muttalib, morreu antes de o menino nascer; sua mãe, Aminah, morreu quando ele tinha seis anos.  O órfão foi então colocado aos cuidados de seu avô, o chefe do clã dos Hashimitas.  Após a morte de seu avô, Muhammad foi criado por seu tio, Abu Talib.  Como era de costume, o menino Muhammad foi enviado para viver por um ano ou dois com uma família beduína.  Esse costume, seguido até recentemente por famílias nobres de Meca, Medina, Taif e outras cidades do Hijaz, teve implicações importantes para Muhammad.  Além de suportar as dificuldades da vida no deserto, ele adquiriu um gosto pela linguagem rica tão amada pelos árabes, sendo o discurso a arte da qual mais se orgulhavam, e também aprendeu a paciência e indulgência dos pastores, cuja vida de solidão inicialmente compartilhou, e então passou a compreender e apreciar.

Por volta do ano 590, Muhammad, então na casa dos vinte anos, passou a prestar serviços a uma comerciante viúva chamada Khadija como seu agente comercial, envolvido ativamente com caravanas de comércio para o norte.  Algum tempo depois ele se casou com ela e teve dois filhos, dos quais nenhum sobreviveu, e quatro filhas.

Quando estava na casa dos quarenta anos ele começou a se afastar para meditar em uma caverna no Monte Hira, fora de Meca, onde os primeiros grandes eventos do Islã ocorreram.  Um dia, enquanto estava sentado na caverna, ouviu uma voz, posteriormente identificada como a do anjo Gabriel, que lhe ordenou:

“Recite: Em nome do teu Senhor que te criou, criou o homem de um coágulo de sangue.” (Alcorão 96:1-2)

Por três vezes Muhammad alegou sua incapacidade para fazê-lo, mas cada vez a ordem se repetiu.  Finalmente Muhammad recitou as palavras que são agora os primeiros cinco versículos do capítulo 96 do Alcorão – palavras que proclamam Deus como o Criador do homem e Fonte de todo o conhecimento.

Inicialmente Muhammad divulgou sua experiência apenas para sua esposa e seu círculo imediato.  Mas, à medida que mais revelações o exortavam a proclamar a unicidade de Deus universalmente, seus seguidores cresceram, primeiro entre os pobres e os escravos, mas depois, também entre os homens mais proeminentes de Meca.  As revelações que recebeu na época e aquelas que recebeu depois estão todas incorporadas no Alcorão, a Escritura do Islã.

Nem todos aceitaram a mensagem de Deus transmitida através de Muhammad.  Até em seu próprio clã havia aqueles que rejeitavam seus ensinamentos e muitos comerciantes se opuseram ativamente à mensagem.   A oposição, entretanto, serviu meramente para aguçar o sentido de missão de Muhammad, e seu entendimento de como exatamente o Islã diferia do paganismo.  A crença na Unicidade de Deus era suprema no Islã; a partir disso tudo o mais deriva.  Os versículos do Alcorão enfatizam a unicidade de Deus, alertam àqueles que a negam da punição iminente, e proclamam Sua compaixão irrestrita com aqueles que se submetem à Sua vontade.  Afirmam que o Último Julgamento, quando Deus, o Juiz, colocará na balança a fé e as obras de cada homem, recompensando o crente e punindo o transgressor.  Como o Alcorão rejeitava o politeísmo e enfatizava a responsabilidade moral do homem, em imagens poderosas, ele apresentava um grave desafio para os habitantes mundanos de Meca.

(parte 2 de 5): A Hégira

Depois de Muhammad ter pregado publicamente por mais de uma década, a oposição a ele alcançou um nível tão alto que, temeroso pela segurança de seus adeptos, enviou-os para a Etiópia.   Lá, o governante cristão lhes ofereceu proteção, memória que tem sido apreciada pelos muçulmanos desde então.  Mas em Meca a perseguição piorou.  Os seguidores de Muhammad eram assediados, abusados e até torturados.  Por fim, setenta dos seguidores de Muhammad partiram, obedecendo a suas ordens, para a cidade de Yathrib, ao norte, na esperança de estabelecerem uma nova etapa do movimento islâmico.  A cidade foi posteriormente chamada de Medina (“A Cidade”).  Mais tarde, no início do outono de 622, ele, com seu amigo mais próximo, Abu Bakr al-Siddiq, partiu para se unir aos emigrantes.  Esse evento coincidiu com o plano dos líderes de Meca para matá-lo.

Em Meca os conspiradores chegaram à casa de Muhammad e descobriram que seu primo, Ali, havia tomado seu lugar na cama.  Enraivecidos, os mecanos colocaram um preço na cabeça de Muhammad e partiram em sua perseguição.  Muhammad e Abu Bakr, entretanto, tinham se refugiado em uma caverna, onde se esconderam de seus perseguidores.  Pela proteção de Deus, os mecanos passaram pela caverna sem notá-la e Muhammad e Abu Bakr seguiram para Medina.  Lá foram recebidos com alegria por uma multidão de medinenses, e também de mecanos que tinham ido na frente para preparar o caminho.

Essa foi a Hijrah – em português, Hégira – que é geralmente traduzida, de forma equivocada, como “Revoada” – a partir da qual a era muçulmana é datada.  De fato a Hijrah não foi uma revoada, mas uma migração cuidadosamente planejada que marca não somente uma interrupção na história – começo da era islâmica, mas também para Muhammad e os muçulmanos, um novo estilo de vida.  Daqui em diante o princípio organizacional da comunidade não era o de mero laço de sangue, mas a irmandade maior de todos os muçulmanos.  Os homens que acompanharam Muhammad na Hijrah foram chamados de Muhajirun – “aqueles que fizeram a Hijrah” ou os “Emigrantes” – enquanto que aqueles em Medina que se tornaram muçulmanos foram chamados de Ansar, ou “Ajudantes.”

Muhammad estava bem informado sobre a situação em Medina.  Antes da Hijrah vários de seus habitantes vieram a Meca para oferecer a peregrinação anual, e como o Profeta costumava aproveitar essa oportunidade para chamar para o Islã os peregrinos visitantes, o grupo que veio de Medina ouviu seu chamado e aceitou o Islã.  Também convidaram Muhammad a se estabelecer em Medina.  Depois da Hijrah as qualidades excepcionais de Muhammad impressionaram tanto os habitantes de Medina que as tribos rivais e seus aliados se uniram quando, em 15 de março de 624, Muhammad e seus apoiadores se movimentaram contra os pagãos de Meca.

A primeira batalha, que ocorreu próximo de Badr, agora uma pequena cidade ao sul de Medina, teve vários efeitos importantes.  Em primeiro lugar, as forças muçulmanas, excedidas em número em três vezes, expulsaram os mecanos.  Segundo, a disciplina exibida pelos muçulmanos colocou os mecanos a par, talvez pela primeira vez, das habilidades do homem que tinham expulsado de sua cidade.  Terceiro, uma das tribos aliadas que tinha prometido apoio aos muçulmanos na Batalha de Badr, mas que então se mostrou indiferente quando a batalha começou, foi expulsa de Medina um mês após a batalha.  Aqueles que alegaram ser aliados dos muçulmanos, mas tacitamente se opunham a eles, foram então advertidos: fazer parte da comunidade impunha a obrigação de apoio total.

Um ano depois os mecanos revidaram.  Reuniram um exército de três mil homens e encontraram os muçulmanos em Uhud, um monte fora de Medina.  Depois dos sucessos iniciais, os muçulmanos foram repelidos e o próprio Profeta foi ferido.  Como os muçulmanos não tinham sido completamente derrotados, os mecanos, com um exército de dez mil homens, atacaram Medina novamente dois anos depois, mas com resultados muito diferentes.  Na Batalha das Trincheiras, também conhecida como a Batalha dos Confederados, os muçulmanos conquistaram uma vitória importante ao introduzirem uma nova forma de defesa.  No lado de Medina a partir do qual o ataque era esperado, cavaram uma trincheira muito profunda para a cavalaria mecana transpor sem se expor aos arqueiros postados atrás das fortificações.  Depois de um cerco inconclusivo os mecanos foram forçados a se retirarem.  A partir daí Medina ficou inteiramente nas mãos dos muçulmanos.

(parte 3 de 5): A Conquista de Meca

A Constituição de Medina – sob a qual os clãs que aceitaram Muhammad como o Profeta de Deus formaram uma aliança, ou federação – data desse período.  Mostrou que a consciência política da comunidade muçulmana tinha alcançado um ponto importante; seus membros se definiram como uma comunidade separada de todas as outras.  A Constituição também definiu o papel de não-muçulmanos na comunidade.  Os judeus, por exemplo, eram parte da comunidade; eram dhimmis, povo protegido, enquanto obedecessem a suas leis.  Isso estabeleceu um precedente para o tratamento de povos dominados durante as conquistas posteriores.  Cristãos e judeus, a partir do pagamento de uma taxa nominal, tinham direito à liberdade religiosa e, embora mantendo sua condição de não-muçulmanos, eram membros associados do estado muçulmano.  Essa posição não se aplicava aos politeístas, que não podiam ser tolerados dentro de uma comunidade que adorava o Deus Único.

Ibn Ishaq, um dos primeiros biógrafos do Profeta, diz que foi por volta desse período que Muhammad enviou cartas aos governantes da terra – o rei da Pérsia, o Imperador de Bizâncio, o Négus da Abissínia, e o governador do Egito entre outros – convidando-os a se submeterem ao Islã.  Nada ilustra melhor a confiança da pequena comunidade, apesar de seu poder militar, a despeito da batalha da Trincheira, continuar insignificante.  Mas sua confiança não inapropriada.  Muhammad construiu de forma tão efetiva uma série de alianças entre as tribos que, em 628, ele e quinze mil seguidores foram capazes de exigir acesso à Caaba.  Isso foi um marco na história dos muçulmanos.  Apenas pouco tempo antes Muhammad tinha deixado a cidade de seu nascimento para estabelecer um estado islâmico em Medina.  Agora estava sendo tratado por seus antigos inimigos como um líder em pleno direito.  Um ano depois, em 629, ele reentrou e, de fato, conquistou Meca, sem derramamento de sangue e em um espírito de tolerância, que estabeleceu um ideal para conquistas futuras.  Ele também destruiu os ídolos na Caaba, para por um fim às práticas pagãs.  Na mesma época, Amr ibn al-’As, o futuro conquistador do Egito, e Khalid ibn al-Walid, a futura “Espada de Deus,” aceitaram o Islã e prestaram aliança a Muhammad.  Suas conversões foram especialmente notáveis porque esses homens estavam entre os maiores oponentes de Muhammad pouquíssimo tempo antes.

Em um sentido o retorno de Muhammad à Meca foi o clímax de sua missão.  Em 632, apenas três anos depois, repentinamente ficou doente e em 8 de junho daquele ano, na presença de sua terceira esposa Aisha, o Mensageiro de Deus “morreu com o calor da lua.”

A morte de Muhammad foi uma perda profunda.  Para seus seguidores esse homem simples de Meca era muito mais do que um amigo querido, muito mais do que um administrador talentoso, muito mais do que um líder reverenciado que havia forjado um novo estado a partir de bandos de tribos rivais.   Muhammad também era o exemplo dos ensinamentos que tinha trazido de Deus: os ensinamentos do Alcorão, que, por séculos, guiaram o pensamento e ação, a fé e conduta, de inumeráveis homens e mulheres, e que introduziram uma era inconfundível na história da humanidade.  Sua morte, entretanto, teve pouco efeito na sociedade dinâmica que criou na Arábia, e nenhum efeito em sua missão central: transmitir o Alcorão para o mundo.  Como disse Abu Bakr: “A quem adorava Muhammad, deixe-o saber que Muhammad está morto, mas a quem adorava a Deus, deixe-o saber que Deus vive e não morre.”

(parte 4 de 5): O Califado de Abu Bakr e Umar

Com a morte de Muhammad, a comunidade muçulmana se viu diante do problema da sucessão.  Quem seria seu líder?  Havia quatro pessoas obviamente marcantes para a liderança: Abu Bakr al-Siddiq, que não apenas tinha acompanhado Muhammad à Medina dez anos antes, mas também sido apontado para tomar o lugar do Profeta como líder das orações públicas durante a última doença de Muhammad; Umar ibn al-Khattab, um companheiro confiável e capaz do Profeta; Uthman ibn ‘Affan, um respeitado convertido do início do Islã, e Ali ibn Abi Talib, primo e genro de Muhammad.  Sua virtude e habilidade para governar as questões da nação islâmica eram uniformemente excelentes.  Em um encontro ocorrido para decidir a nova liderança, Umar pegou a mão de Abu Bakr e deu sua aliança a ele, o sinal tradicional de reconhecimento de um novo líder.  Até o anoitecer todos concordaram e Abu Bakr foi reconhecido como o califa de Muhammad.  Califa é uma palavra que significa “sucessor”, mas também sugere qual seria seu papel histórico: governar de acordo com o Alcorão e a prática do Profeta.

O califado de Abu Bakr foi curto, mas importante.  Um líder exemplar viveu de maneira simples, cumprindo assiduamente suas obrigações religiosas, e era acessível e solidário com seu povo.  Mas também se manteve firme quando algumas tribos, que tinham aceitado o Islã apenas nominalmente, renunciaram a ele após a morte do Profeta.  No que foi uma realização de maior significância, Abu Bakr os disciplinou rapidamente.   Posteriormente consolidou o apoio das tribos dentro da Península Arábica e subsequentemente canalizou suas energias contra os poderosos impérios do Oriente: os sassânidas na Pérsia e os bizantinos na Síria, Palestina e Egito.  Em resumo, demonstrou a viabilidade do estado muçulmano.

O segundo califa, Umar – nomeado por Abu Bakr – continuou a demonstrar essa viabilidade.  Adotando o título de Amir al-Muminin, ou Comandante dos Crentes, Umar estendeu o governo temporal do Islã até a Síria, Egito, Iraque e Pérsia no que, do ponto de vista puramente militar, foram vitórias surpreendentes.  Dentro de quatro anos após a morte do Profeta o estado muçulmano tinha se estendido sobre toda a Síria e, em uma famosa batalha durante uma tempestade de areia próxima ao rio Yarmuk, enfraqueceu o poder dos bizantinos – cujo governante, Heráclito, havia recusado pouco tempo antes o chamado para aceitar o Islã.

Ainda mais surpreendente, o estado muçulmano administrou os territórios conquistados com uma tolerância quase desconhecida naquela época.  Em Damasco, por exemplo, o líder muçulmano, Khalid ibn al-Walid, assinou um tratado que diz o seguinte:

Isso é o que Khalid ibn al-Walid concede aos habitantes de Damasco se adentrar a cidade: promete dar-lhes a segurança de suas vidas, propriedades e igrejas.  Sua cidade não será demolida, nem qualquer muçulmano se aquartelará em suas casas.  Damos a eles o pacto de Deus e a proteção de Seu Profeta, dos califas e dos crentes.  Enquanto pagarem o tributo, nada exceto o bem recairá sobre eles.

Essa tolerância era típica do Islã.  Um ano depois de Yarmuk, Umar, no campo militar de al-Jabiyah nas Colinas de Golã, recebeu a palavra de que os bizantinos estavam prontos a entregar Jerusalém.  Consequentemente, ele cavalgou até lá para aceitar a rendição em pessoa.  De acordo com um relato, ele entrou na cidade sozinho e vestido em um manto simples, surpreendendo a massa acostumada às vestimentas suntuosas e cerimoniais da corte dos bizantinos e persas.  Surpreendeu-os ainda mais quando acalmou seus temores ao negociar um tratado generoso no qual lhes disse: “Em nome de Deus... vocês têm total segurança para suas igrejas, que não devem ser ocupadas ou destruídas pelos muçulmanos.”

Essa política se provou bem sucedida em todos os lugares.  Na Síria, por exemplo, muitos cristãos que tinham se envolvido em ásperas disputas teológicas com as autoridades bizantinas - e perseguidos por elas - deram as boas vindas à chegada do Islã como um fim à tirania.  E no Egito, que Amr ibn al-As tomou dos bizantinos após uma ousada marcha através da Península do Sinai, os cristãos coptas não somente deram as boas vindas aos árabes, mas os ajudaram de forma entusiástica.

Esse padrão foi repetido em todo o Império Bizantino.  O conflito entre gregos ortodoxos, monofisitas sírios, coptas e cristãos nestorianos contribuíram para o fracasso dos bizantinos – sempre considerados como intrusos – em desenvolverem apoio popular, enquanto que a tolerância que os muçulmanos demonstraram em relação aos cristãos e judeus removeu a causa primária para opô-los.

Umar também adotou essa atitude em questões administrativas.  Embora tenha nomeado governadores muçulmanos para as novas províncias, as administrações bizantinas e persas existentes foram mantidas sempre que possível.  Por cinquenta anos, de fato, o grego permaneceu o idioma de chancelaria da Síria, Egito e Palestina, enquanto que o Pahlavi, o idioma de chancelaria dos sassânidas, continuou a ser usado na Mesopotâmia e Pérsia.

Umar, que serviu como califa por dez anos, terminou seu governo com uma vitória significativa sobre o Império Persa.  A luta com o reino sassânida começou em 686 em al-Qadisiyah, próximo de Ctesifonte no Iraque, onde a cavalaria muçulmana tinha lidado de forma bem sucedida com os elefantes usados pelos persas como um tipo de tanques primitivos.  Agora com a Batalha de Nihavand, chamada de a “Conquista das Conquistas”, Umar selou o destino da Pérsia; dali em diante se tornou uma das províncias mais importantes no Império Islâmico.

Seu califado foi um ponto alto no início da história islâmica.  Foi famoso por sua justiça, ideais sociais, administração e arte de governar.  Suas inovações deixaram uma marca permanente sobre o bem-estar social, tributos, e a estrutura financeira e administrativa do império em desenvolvimento.

(parte 5 de 5): O Califado de Uthman ibn Affan

Eleição de Uthman

Umar ibn Al-Khattab, o segundo califa do Islã, foi esfaqueado por um servo persa, Abu Lu’lu’ah, um mágico persa, enquanto liderava a oração de Fajr.  Enquanto Umar estava deitado em seu leito de morto, as pessoas à sua volta pediram que apontasse seu sucessor.  Umar nomeou um comitê de seis pessoas para escolherem o próximo califa entre eles.

Esse comitê consistia de Ali ibn Abi Talib, Uthman ibn Affan, Abdur-Rahman ibn Awf, Sad ibn Abi Waqqas, Az-Zubayr ibn Al-Awam, e Talhah ibn Ubayd Allah, que estavam entre os eminentes Companheiros do Profeta, que Deus envie Seus louvores sobre ele, e tinham recebido durante suas vidas as boas novas do Paraíso.

As instruções de Umar eram que o Comitê de Eleição escolhesse o sucessor dentro de três dias, e que ele assumisse o posto no quarto dia.  Como dois dias se passaram sem uma decisão, os membros ficaram ansiosos já que o tempo estava passando rápido e não havia uma solução à vista para o problema.  Abdur-Rahman ibn Awf ofereceu abrir mão de sua reivindicação se os outros concordassem em aceitar sua decisão.  Todos concordaram em deixar que Abdur-Rahman escolhesse o novo califa.  Ele entrevistou cada nomeado e saiu por Medina perguntando às pessoas sua escolha.  Finalmente selecionou Uthman como o novo califa, já que a maioria das pessoas o escolheu.

Sua Vida como um Califa

Uthman viveu uma vida simples mesmo após se tornar um líder do estado islâmico.  Teria sido mais fácil para um homem de negócios bem sucedido como ele levar uma vida luxuosa, mas ele nunca teve esse objetivo nesse mundo.  Seu único objetivo era provar o prazer da vida futura, já que sabia que este mundo é um teste e temporário.  A generosidade de Uthman continuou após se tornar califa.

Os califas eram pagos por seus serviços do tesouro, mas Uthman nunca recebeu qualquer salário por seu serviço ao Islã.  Não apenas isso, mas também desenvolveu um costume de libertar escravos toda sexta-feira, cuidar de viúvas e órfãos, e fazer caridade ilimitada.  Sua paciência e tolerância estavam entre as características que fizeram dele um líder bem-sucedido.

Uthman teve muitas realizações durante seu reinado.  Levou adiante a pacificação da Pérsia, continuou a defender o estado muçulmano contra os bizantinos, acrescentando o que hoje é a Líbia ao império, e conquistou a maior parte da Armênia.  Uthman também, através de seu primo Mu'awiyah ibn Abi Sufyan, o governador da Síria, estabeleceu uma marinha árabe que lutou uma série de importantes confrontos com os bizantinos.

Da maior importância para o Islã, entretanto, foi a compilação de Uthman do texto do Alcorão como revelado ao Profeta.  Ao perceber que a mensagem original de Deus poderia ser inadvertidamente distorcida por variantes textuais, ele nomeou um comitê para coletar os versículos canônicos e destruir as edições variantes.  O resultado foi o texto que é aceito até o dia de hoje em todo o mundo muçulmano.

Oposição e o Fim

Durante seu califado Uthman enfrentou muita hostilidade de muçulmanos novos e nominais nas novas terras islâmicas, que começaram a acusá-lo de não seguir o exemplo do Profeta e dos califas que o precederam em questões relacionadas ao governo.  Entretanto, os Companheiros do Profeta sempre o defenderam.  Essas acusações nunca o modificaram.  Permaneceu decidido a ser um governante misericordioso.  Mesmo durante a época em que seus inimigos o atacaram, ele não usou os fundos do tesouro para proteger sua casa ou a si próprio.  Como imaginado pelo Profeta Muhammad, os inimigos de Uthman dificultaram seu governo ao se oporem a ele e fazerem acusações de forma constante e incansável.  Seus oponentes finalmente conspiraram contra ele, cercaram sua casa e encorajaram as pessoas a matá-lo.

Muitos de seus conselheiros pediram a ele para parar o ataque, mas ele não o fez, até que foi morto enquanto recitava o Alcorão exatamente como o Profeta havia predito.  Uthman morreu como um mártir.

Anas ibn Malik narrou o seguinte:

“O Profeta uma vez escalou a montanha de Uhud com Abu Bakr, Umar e Uthman. A montanha estremeceu com eles. O Profeta disse (à montanha): ‘Fique firme, Ó Uhud! Porque sobre você existe um Profeta, alguém confiável que me apoiou desde o início e dois mártires.’” (Saheeh al-Bukhari)